Bruno Capinan traz toda essência da sua carreira em seu novo álbum: Tara Rara
13/05/2022O cantor e compositor baiano radicado em Toronto, no Canadá, apresenta no dia da Abolição da Escravatura as lutas do povo negro e a força gay desde a época dos seus antepassados até os dias de hoje.
São onze canções autorais, uma em parceria com Luisão Pereira, com influências que vão de Ary Barroso aos Tincoãs, e fazem reverência a Roma Negra. O projeto conta com o ritmista Marcelo Costa, Bem Gil no violão, uma orquestra de músicos LGBTQIA+, o músico australiano Adrian Astro Perger, e Vivian Kuczynski na produção. Conheça a história de Tara Rara:
Fui da dor ao prazer. Do breu a luminosidade. Dos gritos dos porões dos navios negreiros ao Brasil atual, o do navio negreiro moderno. Quis cantar sobre o desejo, a carne de carnaval, a saudade da Bahia, os pés negros na areia do mar, os pés do colonizador, os “deuses deusas” que habitam as profundezas do mar. A possibilidade de um amor no breu. Cantar ainda é o que nos resta.
Certa manhã em 2020 acordei com versos de Castro Alves, ecos dum Navio Negreiro, e lembrei de uma história contada por minha tia, irmã mais velha de minha mãe, sobre meu bisavô preto “que odiava preto”. Fiquei imaginando o sofrimento que é odiar a si mesmo. Imaginei dois homens escravizados num navio negreiro, na possibilidade de uma história de amor entre eles em meio à crueldade e a tortura. Os dois unidos pelo mero desejo de existir, e separados pelo mar da história.
Dessa rara imagem de amor entre gays escravizados, na recriação da travessia África-Bahia, escolhi lançar ‘Tara Rara’ no dia 13 de Maio. Também como uma maneira de saudar meus bisavôs e meus tataravós. Entre os sons dos tambores e batuques de corpos negros, entre a mais desumana das desumanas das circunstâncias e do destrutivo passado familiar, que nasceram as canções de ‘Tara Rara’.
Ouça o álbum aqui: